“Nós o entregamos como oblação, como dom de Deus. Ele sempre foi e é de Deus.” Foi com essas palavras de fé e esperança que Dom Paulo Jackson, arcebispo de Olinda e Recife, reagiu à notícia da morte do Papa Francisco, ocorrida na madrugada desta segunda-feira (21), logo após o Domingo da Ressurreição.
Para o religioso, a despedida do pontífice argentino em meio ao tempo pascal tem um forte significado espiritual: “Está nos planos amorosos de Deus. Ele foi o papa da esperança e morreu no domingo da esperança.”
Com pesar pela perda, mas sobretudo com gratidão pela trajetória do líder da Igreja Católica, Dom Paulo destacou a dimensão profética de Francisco. “Ele teve ao coração dois grandes temas: os migrantes e a paz. Não esqueçamos que sua primeira visita foi à ilha de Lampedusa, em defesa dos migrantes. E lutou insistentemente pelo fim das guerras, acreditando no diálogo como caminho”, disse.
O arcebispo ressaltou também o enfrentamento firme do Papa diante das crises internas da Igreja, como os abusos sexuais e a transparência econômica do Vaticano. “Ele não fugiu dos temas difíceis. Enfrentou com coragem. E, ao mesmo tempo, trouxe uma nova imagem de Igreja: simples, pobre, samaritana, em estado permanente de missão.”
Para o arcebispo, Francisco, que foi o primeiro Papa latino-americano, será lembrado não apenas pelas reformas e posicionamentos sociais, mas também por sua humanidade. “Tinha o bom humor como marca. Era o papa do sorriso aberto. Um homem de grande espiritualidade, mas também profundamente humano”, declarou Dom Paulo, que esteve com o pontífice pela última vez em fevereiro deste ano.
Próximo papa
Ao comentar as expectativas sobre o futuro da Igreja, Dom Paulo evitou especulações sobre o perfil do sucessor. “O importante é que seja um homem de Deus, guiado pelo Espírito Santo. O carisma pessoal de cada papa é secundário diante da missão maior, que é a unidade da Igreja. Nós amamos o Papa, quem quer que seja, porque é ele quem exerce esse ministério da unidade”.
Sobre a possibilidade de um Papa brasileiro — ou mesmo pernambucano — o arcebispo foi direto: “Não temos cardeais pernambucanos. O próximo Papa será escolhido entre os cardeais. Quem virá, nós não sabemos, mas confiamos que será alguém iluminado para conduzir a Igreja pelos caminhos do Evangelho.”
Mesmo em meio à comoção, a mensagem que Dom Paulo deixa aos fiéis é de paz e confiança: “Francisco não gostaria que ficássemos lamentando ou chorando. Ele quer ser lembrado com alegria, com esperança. Sua vida inteira foi um testemunho do Cristo ressuscitado.”
Dom Paulo embarca nos próximos dias para um retiro espiritual na Terra Santa. “Vou à Galileia, lugar onde Jesus começou seu ministério. Francisco era homem do silêncio, do discernimento, da oração. Sonhava os sonhos de Deus. Que agora, em Deus, interceda por todos nós.”